Carros novos podem ficar ainda mais caros em 2023

Recentemente, marcas como Honda e Toyota reajustaram quase 2% o valor de seus veículos, parecendo pouco em teoria, na prática, pode beirar bons 3 mil reais.

Isso não chega a ser nenhum “cisne negro” – um evento de proporções raras, diria Nassin Taleb – é antes de tudo uma tendência que deve seguir forte nos anos vindouros. O aumento no valor de veículos 0km chegou a proporções homéricas no contexto da pandemia e, ao que os fundamentos indicam, tal aumento deverá progredir.

Que o valor dos produtos subirá todos os anos, não é novidade, na verdade, é até bem simples de entender, a inflação vem e corrige o valor da moeda de modo que o produto não fica mais caro, é o dinheiro que perde valor. Todavia, somente inflação e a reabertura das economias pós-pandemia não são fatores que – por si só – explicam ou mesmo influenciam o preço final de veículos 0km. É necessário, portanto, entender como alguns fatores influenciam essa questão e corroboram para a concretude deste cenário.

Num primeiro momento, haverá a impressão de chover no molhado, porque bateremos em teclas velhas e já conhecidas da maioria da população. Uma delas é a crise dos semicondutores e microchips, cuja falta fez com que os insumos disponíveis fossem direcionados para produtos topo de linha, que já não são baratos.

Outro é o ICMS (imposto sobre a circulação de mercadorias e prestação de serviços) cujo aumento já foi decretado para pelo menos 12 unidades da federação e levanta preocupações no setor automobilístico nacional. Além desses, temos a atual taxa de juros que é muito alta e dificulta compras a prazo por parte do consumidor – dados mostram que em 2022, o número de carros financiados foi de 30% uma redução considerável se pensarmos que a pouco tempo esse número era o dobro – por parte das concessionárias, torna-se menos atrativo ofertas com redução de juros, pois uma vez que eles são tão altos, sua redução não os deixaria baixos senão que menos altos.

Do lado das políticas públicas e do Estado, vemos uma forte pressão para que a indústria de adéque da forma que puder as novas exigências e protocolos ambientais. Muito disso já vemos, nosso mercado vem sendo inundado por carros elétricos ou híbridos de forma nunca vista antes, no entanto, eles vêm com preços altos. Projetos como o Proconve 8 são ambientalmente amigáveis, todavia fazem exigências de emissões que obrigam fabricantes a tomarem medidas agressivas na promoção de seus produtos, que por norma, termina por excluir uma parcela significativa da população a qual não possui os meios para atingir o fim de adquirir um desses veículos. Portanto, não há como ser amigo do ambiente sem ser amigo da população também.

Agora, direcionando nosso olhar para o ente no fim do processo produtivo, veremos o consumidor final. É nesse lugar onde o aumento será mais perceptível, ora estamos falando de carros que segundo a Jato Dynamics passaram de um custo médio de R$ 66 300,00 em 2016 para R$ 130 800,00 em 2023, é um aumento de 97,28% no valor final que chega para um cidadão comum cuja renda per capita em 2022 chega a R$ 2 652,00. Acrescenta-se a isso a política monetária praticada no país, a qual dificulta o acesso ao crédito e temos um quadro aonde boa parte da população está ou estará à margem do acesso a veículos novos, nem mesmo para versões ironicamente chamadas de “populares”.

A perspectiva não é tão promissora no curto prazo, talvez no longo surja algo improvável que mude o panorama, mas até lá temos que buscar soluções e boas ideias. Uma delas sem dúvidas é o mercado de semi novos e usados, análise recente divulgada pelo JP Morgan Researchs indicou uma possível redução no valor desse segmento de 10% a 20%.

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